quarta-feira, 20 de julho de 2016

Aonde quer que tu fores irei eu





“... porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, 
ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. (Rute 1:16-17).



É comum encontrarmos a epígrafe deste texto em convites de casamento, pois ela revela a promessa de uma pessoa feita a outra: estarei sempre ao seu lado. No entanto, o que poucas pessoas sabem é que este texto foi dito por uma mulher a outra mulher. Esta é uma fala de Rute a sua sogra Noemi. Apesar do texto ser revelador da fidelidade de uma mulher a outra, na cultura patriarcal, somos ensinadas a ser rivais. Não necessariamente somos inimigas, mas constantemente somos colocadas em situações de competição.

A competição estimulada e ensinada às mulheres está presente em nosso cotidiano. A relação que se estabelece entre sogras e noras, em muitas situações é de completa desarmonia, pois por motivos diversos elas disputam o amor e atenção do homem amado; o mesmo acontece em relações entre cunhadas que às vezes se odeiam e disputam não só a atenção de seus homens, mas também a atenção que os filhos e elas têm na família. Descrevo apenas do ponto de vista de relações heterossexuais, pois desconheço situação semelhante em relações homoafetivas, o que não quer dizer que essas sejam superiores ou melhores, apenas ignoro tais fatos. 

As relações conflituosas se dão também entre mulheres que possuem laços sanguíneos. Não é incomum encontrarmos irmãs disputando o amor dos pais e tentando mostrar que uma é melhor do que a outra na escola, no trato com as pessoas, no trabalho e, depois de adultas, tentando mostrar quem tem a melhor família ou mais sucesso profissional. Mães e filhas disputam muitas vezes o espaço dentro de casa, não apenas o espaço físico, mas também o espaço da vida do sujeito marido e pai ou dos sujeitos irmãos e filhos.

Em espaços de trabalho, as relações entre as mulheres não são menos conflituosas. Durante muito tempo eu disse que preferia trabalhar em um local onde tivesse mais homens do que mulheres; também repetia a máxima de que preferia a amizade dos homens à amizade das mulheres; e, não poucas vezes, disse que achava as mulheres falsas. Ainda bem que o feminismo me ajudou a desconstruir isso. Hoje compreendo que o que gera estas relações de conflito entre nós não é nossa má índole, pois as expressões que citei acima fazem com que acreditemos que o mal está dentro nós. Hoje sei que essas relações são ruins porque fomos ensinadas a tornar isso verdade e a não confiar umas nas outras. Apesar de vivenciarmos a experiência de ter sempre uma grande parceira que nos ajuda e nos cuida nas horas de apuros, repetimos os chavões e perpetuamos relações desarmoniosas o tempo inteiro, porque a sociedade patriarcal nos ensina isso.

O feminismo ensinou essa desconstrução não apenas a mim. Os movimentos feministas e as teorias feministas têm ensinado isso a muitas mulheres, de forma que hoje em dia páginas como a “Vamos juntas” incentivam a parceria entre mulheres, principalmente em situação de perigo. A “Revista Azmina” difunde ideias de feminismo e estimula a sororidade. Campanhas lançadas pelas hashtags #primeiroassedio; #meuprofessorabusador; #meuamigosecreto e outras uniram as mulheres no compartilhamento de experiências, mas também na percepção de que podem andar juntas.

As mulheres negras cada vez mais buscam alternativas de se apoiarem enquanto sujeitos femininos que sofrem com as mazelas da sociedade patriarcal, mas que também sofrem com o racismo. A mulher negra é duplamente atingida em nossa sociedade, o que faz com que crie espaço de parceria e de resistência. Assim, grupos como o “Dada Mkutano/Encontro de Irmãs” promovem encontros de mulheres negras; páginas como: “A Mulher negra e o Feminismo”, “Blogueiras Negras”, “Negra Rosa”, “Noiva Negra” e outras fazem com que as mulheres negras se vejam como parceiras na militância, na produção, na beleza e no compartilhar de momentos importantes.

Se na literatura bíblica Rute jurou fidelidade a Noemi, neste dia do amigo podemos trabalhar para desconstruir a ideia de inimizade entre nós e passar a criar laços de lealdade e parceria. Que o texto bíblico usado em convites de casamento esteja presente também em nossas homenagens as nossas amigas, irmãs, sogras, mães, cunhadas, colegas, enfim... as mulheres que fazem parte de nossa vida.

Feliz Dia da Amiga e do Amigo!



Aonde quer que tu fores irei eu




“... porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, 
ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus;
Onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. (Rute 1:16-17).


É comum encontrarmos a epígrafe deste texto em convites de casamento, pois ela revela a promessa de uma pessoa feita a outra: estarei sempre ao seu lado. No entanto, o que poucas pessoas sabem é que este texto foi dito por uma mulher a outra mulher. Esta é uma fala de Rute a sua sogra Noemi. Apesar do texto ser revelador da fidelidade de uma mulher a outra, na cultura patriarcal, somos ensinadas a ser rivais. Não necessariamente somos inimigas, mas constantemente somos colocadas em situações de competição.

A competição estimulada e ensinada às mulheres está presente em nosso cotidiano. A relação que se estabelece entre sogras e noras, em muitas situações é de completa desarmonia, pois por motivos diversos elas disputam o amor e atenção do homem amado; o mesmo acontece em relações entre cunhadas que às vezes se odeiam e disputam não só a atenção de seus homens, mas também a atenção que os filhos e elas têm na família. Descrevo apenas do ponto de vista de relações heterossexuais, pois desconheço situação semelhante em relações homoafetivas, o que não quer dizer que essas sejam superiores ou melhores, apenas ignoro tais fatos. 

As relações conflituosas se dão também entre mulheres que possuem laços sanguíneos. Não é incomum encontrarmos irmãs disputando o amor dos pais e tentando mostrar que uma é melhor do que a outra na escola, no trato com as pessoas, no trabalho e, depois de adultas, tentando mostrar quem tem a melhor família ou mais sucesso profissional. Mães e filhas disputam muitas vezes o espaço dentro de casa, não apenas o espaço físico, mas também o espaço na vida do sujeito marido e pai ou dos sujeitos irmãos e filhos.

Em espaços de trabalho, as relações entre as mulheres não são menos conflituosas. Durante muito tempo eu disse que preferia trabalhar em um local onde tivesse mais homens do que mulheres; também repetia a máxima de que preferia a amizade dos homens à amizade das mulheres; e, não poucas vezes, disse que achava as mulheres falsas. Ainda bem que o feminismo me ajudou a desconstruir isso. Hoje compreendo que o que gera estas relações de conflito entre nós não é nossa má índole, pois as expressões que citei acima fazem com que acreditemos que o mal está dentro nós. Hoje sei que essas relações são ruins porque fomos ensinadas a tornar isso verdade e a não confiar umas nas outras. Apesar de vivenciarmos a experiência de ter sempre uma grande parceira que nos ajuda e nos cuida nas horas de apuros, repetimos os chavões e perpetuamos relações desarmoniosas o tempo inteiro, porque a sociedade patriarcal nos ensina isso.

O feminismo ensinou essa desconstrução não apenas a mim. Os movimentos feministas e as teorias feministas têm ensinado isso a muitas mulheres, de forma que hoje em dia páginas como a “Vamos juntas” incentivam a parceria entre mulheres, principalmente em situação de perigo. A “Revista Azmina” difunde ideias de feminismo e estimula a sororidade. Campanhas lançadas pelas hashtags #primeiroassedio; #meuprofessorabusador; #meuamigosecreto e outras uniram as mulheres no compartilhamento de experiências, mas também na percepção de que podem andar juntas.

As mulheres negras cada vez mais buscam alternativas de se apoiarem enquanto sujeitos femininos que sofrem com as mazelas da sociedade patriarcal, mas que também sofrem com o racismo. A mulher negra é duplamente atingida em nossa sociedade, o que faz com que crie espaço de parceria e de resistência. Assim, grupos como o “Dada Mkutano/Encontro de Irmãs” promovem encontros de mulheres negras; páginas como: “A Mulher negra e o Feminismo”, “Blogueiras Negras”, “Negra Rosa”, “Noiva Negra” e outras fazem com que as mulheres negras se vejam como parceiras na militância, na produção, na beleza e no compartilhar de momentos importantes.

Se na literatura bíblica Rute jurou fidelidade a Noemi, neste dia do amigo podemos trabalhar para desconstruir a ideia de inimizade entre nós e passar a criar laços de lealdade e parceria. Que o texto bíblico usado em convites de casamento esteja presente também em nossas homenagens as nossas amigas, irmãs, sogras, mães, cunhadas, colegas, enfim... as mulheres que fazem parte de nossa vida.

Feliz Dia da Amiga e do Amigo!