terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Descolonizando nossas mentes


“A maneira como formulamos ou representamos o passado molda nossa compreensão e nossas concepções do presente” (Edward Said, 2011, p. 36). Esta é a frase que me veio à mente quando vi a  foto de uma família formada por pais brancos e filho negro que tem causado polêmica neste carnaval. O motivo de tal polêmica foi o fato dos pais se fantasiarem de Aladdin e Jasmine e o menino ser fantasiado de Abu, o macaco de Aladdin. A imagem que tem circulado nas redes sociais e manchetes de jornais é marcada por uma série de comentários de negros e brancos. Alguns defendem  os pais argumentando que eles estavam apenas brincando e o preconceito está nos olhos de quem vê – argumento de brancos que nunca sentiram o preconceito ou de negros que precisam se desalienar a partir de uma “tomada de consciência das realidades econômicas e sociais” (Fanon, 2008, p. 28). Outros apontam que foi racismo e que os pais devem ser punidos por terem feito uma exposição racista da criança, novamente há brancos e negros: os primeiros são os partidários das ações de resistência ao racismo e que reconhecem os privilégios que sempre tiveram por sua cor de pele; os segundos reconhecem-se como vitimas históricas deste sistema racista e exigem reparações. 

Entretanto, tanto o grupo de defesa dos pais, quanto o grupo de acusação não percebe que problema não é um caso isolado. A fantasia da família apenas foi chocante porque o menininho é o macaco e temos presenciado muitos negros sendo chamados de macacos nos últimos tempos: Tinga, Neymar, Aranha, Arouca, Maju, Thais Araújo, etc. O grande problema é, na verdade, a colonização das mentes, que faz com que muitos negros e brancos naturalizem o racismo de tal forma que ele passa despercebido. Se fizermos uma busca rápida na página pessoal do pai do menino que foi fantasiado de macaco, perceberemos que ele é um fã da Disney, assim como é um apaixonado pelo filho. As fotos revelam uma família em que a mãe é comparada a uma princesa da Disney e o olhar do filho é capaz de mudar a vida do pai. O problema desta família, como de boa parte das pessoas que não percebem o racismo em uma situação como esta, é a colonização das mentes, ou seja, essas pessoas estão tão tomadas pela globalização, capitalismo, e pelos ismos alienadores que não conseguem perceber o peso dos seus atos.

A gravidade da foto é a mesma que acomete crianças negras que não se vem representadas em brinquedos, programas de televisão e espaços de diversão. É a mesma que ataca o jovem negro que é assediado pela polícia, pois faz parte do grupo em atitude suspeita. É a mesma que agride a mulher negra que é vista como boa para a cama e para a cozinha, mas não para casar. Estes três exemplos mostram  situações tão naturalizadas que fazem com as bonecas negras, de mesma marca e material das bonecas brancas, custem mais barato nas lojas. Muitos ainda atravessam a rua quando avistam um grupo de meninos negros da periferia ou acham natural colocar estes meninos amarrados em postes se cometerem alguma infração. Outros fantasiam sexo com mulheres negras, mas nunca assumiriam um relacionamento com uma – basta ver os índices de mulheres negras solteiras e sozinhas. E há ainda aqueles que, de forma natural, perguntam se a negra em determinado lugar ocupa a posição serviçal: empregada doméstica em ambientes familiares, recepcionista ou copeira em outros locais de trabalho.

Enfim, a foto mostra a necessidade de mudança nos discursos e nos espaços de poder e de representação. A mudança nos discursos passa por tornar perceptível a existência do racismo, seja agindo como o goleiro Aranha, seja chamando a atenção para o absurdo da fantasia da família. A mudança nos espaços de poder se dará oportunizando a negros e a negras a ocupação de espaços historicamente destinados aos brancos: nas universidades, no serviço público ou em posições de chefia nas empresas privadas. A mudança nos parâmetros de representatividade passa por modificarmos os currículos das escolas, por exigirmos brinquedos que representem todas as crianças, por não aceitarmos negros apenas em papéis subalternos nas televisões. Enfim, brancos e negros precisam reconhecer que o racismo é mais do que uma atitude, é uma estratégia para colocar um grupo em posição subalterna a outro. Além disso, não se pode ignorar que esta estratégia tem sido bem sucedida, pois não percebemos a existência de um passado escravagista que animalizou homens e mulheres negras, de forma que ainda reproduzimos, na atualidade, práticas racistas e discriminatórias como a da foto ou de tantas outras que vemos diariamente.

Referências
FRANTZ, F. Pele Negra Mascaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008.

SAID, E. W. Cultura e Imperialismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011

3 comentários:

  1. Maju foi ofendida por uma entidade de defesa aos negros que procuraram polemizar para aumentar a conscientização, bonecas negras são mais baratas pq tem menos procura, lei da oferta e procura é um problema de economia não de racismo e a culpa recai sobre a população negra que compra bonecas brancas. O restante realmente concordo, devemos lutar contra está rotulação da mulher negra.

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  2. A pessoa se esforça para escrever um texto claro e didático e vem uma criatura que não entendeu nada escrever isso. Descolonize sua mente, Carlos Airam!

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  3. Adilson Azevedo
    ao meu entender os pais não deveriam ter feito essa comparação e se fosse uma pessoa adulta escolhendo o personagem para si ai seria tudo bem...Quanto a nossas mlheres não serem vistas em caragos mais elevados, estamos lutando para isso mudar na verdade a bandeira agora esta aberta e elas estão procurando o camiinho para que as novas gerações tenham o norte da batalha onde se espelhar.. quanto fantasia com mulheres negras que bom que sonhem pois será cada vez mais dificil telas sem a reseita las.

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